Desde menino ele tinha sonhos e sonhava grande. Outros
países, outras culturas, outras histórias. Mas, sem referências, eram só
sonhos. Em seu lar, tinha tudo o que precisava para viver: alimento, conforto, acesso
à educação e muito amor. Em seu ‘quintal’, a miséria, o tráfico, a violência.
Não conhecia ninguém que tivesse ido à universidade, que tivesse um cargo de
gerência em uma grande empresa ou trabalhasse em uma multinacional. Se sentia
um estranho no ninho, pois tinha certeza que, entre os seus companheiros de
jogo de taco na rua, era o único que pensava sobre isso.
A religião não trouxe só Deus à sua vida, os melhores amigos
que conheceu em toda a sua existência, ele fez na igreja. Através da primeira
eucaristia, ainda criança, ingressou em um grupo do qual só saiu adulto. Por,
mais ou menos, 15 anos, todo domingo de manhã saía de sua casa, feliz da
vida para aquele encontro semanal. Sempre que possível se encontravam fora
desse horário também, mas foi tudo tão natural que, se perguntassem, ele, provavelmente,
não saberia responder em que momento dessa trajetória esse grupo se transformou
nos amigos que são até hoje.
Foi nesse círculo que conheceu uma nova realidade. Saiu do seu habitat natural e passou a conviver com uma galera completamente diferente
do que estava acostumado. Foi o seu primeiro contato com um aluno de escola
particular, por exemplo. E, apresentado àquele novo cenário, pela primeira vez
na vida, sentiu-se incluído, parte de algo. Isso foi sensacional e desastroso
ao mesmo tempo.
Viver naquele meio por um período tão grande, lhe deu a
falsa impressão de ser um deles, mas não era. Eles não moravam no mesmo
bairro, não usavam as mesmas marcas, suas moradias eram bem diferentes e,
principalmente, mais tarde, não teriam as mesmas oportunidades.
Os anos voaram e a profecia se cumpriu. Fora daquele círculo
que lhe era tão familiar, ele se sentia, novamente, um peixe fora d’água.
Precisou encontrar outra ocupação para as manhãs de domingo e, principalmente,
entender o mundo que agora o cercava. Parece exagero, mas, sim, aquelas pessoas
eram prioridade para ele, vinham em primeiro lugar, muitas vezes, antes dele.
E, naquele momento, pela primeira vez em mais de uma década, ele não os tinha.
Teve que se virar.
Foi duro fazer o caminho inverso. A compreensão de quem ele
era, foi um processo doloroso, mas necessário. Ele entendeu que só quando a
gente se conhece de verdade pode ter plena certeza do que é a felicidade e descobriu
a dele.
Hoje, quase 10 anos depois, ele olha para trás com saudade e
não com arrependimento, ainda tem muitos sonhos, tropeça nas dificuldades,
reclama da falta de oportunidades, cai, duvida que vai conseguir, cansa... mas continua.
Aprendeu que só a persistência pode levar ao êxito e que, descansar é uma ótima
opção quando sua vontade é desistir. Que seja sempre assim!
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