domingo, 20 de maio de 2012

Somos todos iguais.

Na última terça-feira, 15 de maio, o assunto do Profissão Repórter (programa jornalístico exibido pela Rede Globo de Televisão) era a sexualidade dos jovens. Acompanhando o dia a dia de alguns casais, mostraram exemplos de adolescentes que podiam dormir juntos na casa da namorada, os que mal podiam ficar a sós e aqueles que se casam e têm filhos muito cedo. O problema foi encontrar casais gays que pudessem fazer parte desse grupo e mostrar na televisão, em rede nacional, como é o seu namoro. Foi dessa dificuldade que nasceu o assunto desse post.


Eu não sabia, mas estávamos na semana em que se comemora o Dia Internacional contra a Homofobia, 17 de maio. A data foi escolhida por ativistas franceses, em 2005, fazendo menção ao dia em que a Organização Mundial de Saúde excluiu a homossexualidade da classificação internacional de doenças, em 1990. Muitas notícias foram veiculadas sobre o assunto e as redes sociais ganharam um número infindável de ativistas e simpatizantes. Mas ao que parece, no dia seguinte, tudo volta a ser como antes.


Foram 40 nãos até, enfim, conseguir um sim. A história de Sinara Trein deve ser igual á de tantas outras mães de filhos gays. Sua filha, Kamile, falou abertamente sobre o assunto quando tinha 12 anos e já tinha uma namoradinha. A mãe não reprimiu, mas pediu que ela mantivesse um relacionamento discreto na presença dela, que proibia até pegar na mão. Foi difícil para a filha, mas Sinara pediu um tempo para se acostumar com a situação, e hoje enxerga tudo com maior naturalidade. " Outro dia fomos fazer compras e as duas estavam juntas, de mãos dadas, caminhando, e eu achei lindo. Aonde que o amor não é bonito? O amor é lindo sempre! "
E 20 tentativas depois, a equipe do programa foi recebida num almoço de família na casa de Maria Castanha, avó do radialista Raul. Ele é casado com Jonas, que é órfão de mãe e não tem nenhum contato com a sua família, pois o pai não aceitou bem a ideia do filho assumir-se. Dona Maria não concorda com a relação dos netos (a irmã de Raul também é homossexual), mas os respeita "Eu acho que o homem foi feito para ser homem, e a mulher foi feita para ser mulher, né? Isso não é muito certo, mas a gente não pode fazer nada, é a vontade deles". Os pais de Raul os consideram uma família como qualquer outra, independente da sexualidade de seus filhos. E Leila Freitas, mãe de Raul, desabafa: "Eu aceitei aparecer no programa porque quando você ouve falar de gay, em qualquer lugar do mundo, as pessoas falam como se eles fossem filhos de chocadeira. Como se eles não tivessem família, mas eles têm família sim!"


Foto de Valéria Almeida.
É importante que a mídia mostre essas histórias, mas entendo quando as pessoas preferem se reservar. Quem sabe quando o respeito e aceitação começar dentro de casa, o mesmo aconteça fora dela. Sonho com o dia em que virei, com alegria escrever aqui nesse blog, que as pessoas entenderam que, independente de cor, classe social ou condição sexual, nós somos todos iguais. Aí então, se esconder vai deixar de ser proteção e virar apenas uma opção.


' Acho que gosto de São Paulo, gosto de São João. Gosto de São Francisco e de São Sebastião. E eu gosto de meninos e meninas! '
Meninos e meninas - Legião Urbana.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Realidade

Já ouvi dizer que novela é uma cultura inútil. Tenho uma tia que tinha até uma explicação para o nome: nó-vela (o ato de velar o que está dando um nó em sua mente). Nunca concordei com isso, sou noveleiro assumido. Do tipo que pede para as pessoas falarem um ano qualquer, para que eu cite uma novela correspondente. Hoje não tenho mais tanto tempo para acompanhá-las, mas tem uma que eu vejo sempre que posso: a atual novela das 7, da Rede Globo, Cheias de Charme. A novela conta a história de 3 empregadas domésticas que se tornam amigas e estão sempre juntas, seja para ajudar ou comemorar.


Um dia depois da premiação do Oscar, desse ano, descobri uma história que me encantou. Minutos após acordar, ouço Bruno Astuto e Maria Beltrão comentando os premiados, no programa Mais você. Ela defendia um filme que não tinha sido premiado, e ele não achava o filme fraco. A história me chamou atenção e resolvi assistir no mesmo dia.


The Help (Histórias Cruzadas), baseado no best seller de Katryn Stocklett, é um retrato sobre uma jovem mulher caucasiana, Eugenia “Skeeter” Phelan (Emma Stone), e o seu relacionamento com duas empregadas negras, Aibeleen Clarck (Viola Davis) e Minny Jackson (Octavia Spencer), durante a era americana dos Direitos civis no idos de 1960. Skeeter volta da universidade, após se formar em Jornalismo, e não se conforma com a demissão da empregada de sua casa, que a havia criado. Aquelas mulheres negras que criavam os filhos das mulheres brancas, não podiam sequer usar o banheiro da casa, tinham um cubículo dedicado á elas no quintal da propriedade. Eram essas negras que limpavam a casa, cozinhavam e educavam filhos que não eram delas, enquanto os seus ficavam em casa, muitas vezes, contando apenas com a própria sorte. E o pior era não ter a oportunidade de se escolher o que fazer. Já nasciam fadadas a seguir a profissão de suas mães, na casa onde as mesmas trabalhavam. Essa é realidade que Skeeter resolve contar, com a ajuda de Aibeleen e Minny, no livro The Help.


Vocês devem estar se perguntando agora o que isso tem haver com a novela, não é mesmo? Parece uma realidade tão distante das nossas, mas não é. Identifiquei na novela Cheia de Charme uma personagem com uma história exatamente como a dessas empregadas negras americanas da década de 60. Maria Aparecida (Isabelle Drummond) achou que sempre tinha sido tratada como uma pessoa da família, Era filha da arrumadeira de casa, que morreu quando ela tinha 12 anos. Ficou sendo criada pela madrinha, que é a cozinheira e não percebeu que, pouco a pouco, estava assumindo as funções de sua falecida mãe. Quando se deu conta, já tinha quase 20 anos de idade e resolveu mudar sua história.


Vemos na ficção um retrato da realidade. Nas áreas mais carentes, e de menos instrução, o número de mulheres que acham que não podem mudar as suas histórias é imenso. Muitas engravidam cedo, seguindo os passos de suas mães, primas, amigas. E acham, de verdade, que a vida delas era para ser assim. Torço pelo dia em que haja mais instrução e esse conformismo faça parte do passado. Que como na ficção, elas se libertem para chegar onde quer que queiram.


" Tente mover o mundo - o primeiro passo será mover a si mesmo. "
Platão.