quarta-feira, 16 de maio de 2012

Realidade

Já ouvi dizer que novela é uma cultura inútil. Tenho uma tia que tinha até uma explicação para o nome: nó-vela (o ato de velar o que está dando um nó em sua mente). Nunca concordei com isso, sou noveleiro assumido. Do tipo que pede para as pessoas falarem um ano qualquer, para que eu cite uma novela correspondente. Hoje não tenho mais tanto tempo para acompanhá-las, mas tem uma que eu vejo sempre que posso: a atual novela das 7, da Rede Globo, Cheias de Charme. A novela conta a história de 3 empregadas domésticas que se tornam amigas e estão sempre juntas, seja para ajudar ou comemorar.


Um dia depois da premiação do Oscar, desse ano, descobri uma história que me encantou. Minutos após acordar, ouço Bruno Astuto e Maria Beltrão comentando os premiados, no programa Mais você. Ela defendia um filme que não tinha sido premiado, e ele não achava o filme fraco. A história me chamou atenção e resolvi assistir no mesmo dia.


The Help (Histórias Cruzadas), baseado no best seller de Katryn Stocklett, é um retrato sobre uma jovem mulher caucasiana, Eugenia “Skeeter” Phelan (Emma Stone), e o seu relacionamento com duas empregadas negras, Aibeleen Clarck (Viola Davis) e Minny Jackson (Octavia Spencer), durante a era americana dos Direitos civis no idos de 1960. Skeeter volta da universidade, após se formar em Jornalismo, e não se conforma com a demissão da empregada de sua casa, que a havia criado. Aquelas mulheres negras que criavam os filhos das mulheres brancas, não podiam sequer usar o banheiro da casa, tinham um cubículo dedicado á elas no quintal da propriedade. Eram essas negras que limpavam a casa, cozinhavam e educavam filhos que não eram delas, enquanto os seus ficavam em casa, muitas vezes, contando apenas com a própria sorte. E o pior era não ter a oportunidade de se escolher o que fazer. Já nasciam fadadas a seguir a profissão de suas mães, na casa onde as mesmas trabalhavam. Essa é realidade que Skeeter resolve contar, com a ajuda de Aibeleen e Minny, no livro The Help.


Vocês devem estar se perguntando agora o que isso tem haver com a novela, não é mesmo? Parece uma realidade tão distante das nossas, mas não é. Identifiquei na novela Cheia de Charme uma personagem com uma história exatamente como a dessas empregadas negras americanas da década de 60. Maria Aparecida (Isabelle Drummond) achou que sempre tinha sido tratada como uma pessoa da família, Era filha da arrumadeira de casa, que morreu quando ela tinha 12 anos. Ficou sendo criada pela madrinha, que é a cozinheira e não percebeu que, pouco a pouco, estava assumindo as funções de sua falecida mãe. Quando se deu conta, já tinha quase 20 anos de idade e resolveu mudar sua história.


Vemos na ficção um retrato da realidade. Nas áreas mais carentes, e de menos instrução, o número de mulheres que acham que não podem mudar as suas histórias é imenso. Muitas engravidam cedo, seguindo os passos de suas mães, primas, amigas. E acham, de verdade, que a vida delas era para ser assim. Torço pelo dia em que haja mais instrução e esse conformismo faça parte do passado. Que como na ficção, elas se libertem para chegar onde quer que queiram.


" Tente mover o mundo - o primeiro passo será mover a si mesmo. "
Platão.






8 comentários:

  1. Eaee David Marcelino Eu sou Stefanyy kkkkkkkkk ja sabe quem é? kkkk Abraço legal o Blog *-* ja viu o meu? www.1morlegal.blogspost.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Vou ter que ver o seu, com certeza, parceiro!
      Obrigado por ler e comentar!
      Abração!

      Excluir
  2. Como sempre, diretíssimo nas palavras. E ainda tem gente que reclama do meu jeito de abraçar o mundo rs* Eu amo abraçar o mundo! E vou continuar tentando abraçar e mudar.. Parabéns David!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É isso aí, Gabi. Temos que ser diretos quando queremos o entendimento imediato, né? Sem meias palavras, mas sempre falando a verdade. E que sejamos sempre diretos em tudo que nos propormos a fazer, só assim conseguiremos mudar um pouco o meio em que vivemos e consequentemente, um pouco do mundo.

      Obrigado pelo comentário, linda!
      Um beijão!

      Excluir
  3. Amadooo!! Mtu boa a tua comparação e reflexão, também acompanho a novela e me identifico muito, pois sou filha de doméstica(com mtu orgulho) e vejo o quanto minha mãe sacrificou o futuro dela para dar o melhor a mim e a minha irmã! Mtu bom colocar este assunto em discussão...
    Continue escrevendo, estarei acompanhando!
    Mil beijoss....
    Werinha

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Werinha, minha querida, obrigado pelo comentário.
      É realmente importante que identifiquemos esses focos em nossa sociedade e chamemos atenção para isso de alguma forma. Minha mãe sempre trabalhou como cozinheira e apesar de não sustentar a casa sozinha, já que meu pai provia essa parte, ela fazia as minhas vontades e de minhas irmãs com o dinheiro dela. Sempre tive muito orgulho de repetir essa história.
      Desde que vi o filme, em março, estou com a ideia de falar sobre ele, mas só quando Maria Aparecida apareceu, foi que percebi que tinha mesmo um lado social nessa história, que não era só ficção e que era meu dever de futuro jornalista chamar atenção para isso. E cá estou eu.

      Já vou seguir seu blog agora mesmo!
      Mais uma vez, obrigado pelo comentário!
      Beijão!

      Excluir
  4. Ai ai David. Agora vou ter que assistir esse filme.
    Excelente a comparação e lindíssimo texto. Sabe que essas coisas de mudar a história, a nossa e a do mundo, faz parte dos meus sonhos mais lindos! Jornalista tem um pouco dessa vontade de mudar as coisas. Ou, ao menos alguns deveriam ter. Errar, aprender, mudar... Esse ciclo vicioso que tanto nos faz crescer né?

    ResponderExcluir
  5. Assista o filme, Lua, você vai adorar. E acredito que vá ficar com a mesma sensação que eu, no final. A ideia de que é possível mudar o seu destino.
    Pois é, esse objetivo de contribuir para melhorar o mundo está intrínseco na nossa profissão (sim, eu já me incluo rs), e acredito que é assim mesmo que deva ser.
    Obrigado por ler e pelos elogios. Juro, que não precisava de mais que isso, nesse momento.

    ResponderExcluir