Semana passada uma amiga muito querida foi mãe pela segunda
vez. Fiquei feliz com a notícia, é óbvio, mas, confesso, me bateu uma pontinha
de tristeza. Eu não participei desse processo, não vi o vídeo do ultrassom, nem
perguntei mil vezes se ela já estava em trabalho de parto. A mamãe em questão
faz parte de um tempo muito bacana da minha vida, mas não do atual. Ah, quanta
saudade me deu...
Nos conhecemos há quase 10 anos e, durante alguns meses fomos muito próximos. Ela morava em São Paulo,
tinha dado com os burros n’água em uma promissora mudança de emprego e possuía
um apartamento em Santos, por isso, estava sempre por aqui. Frequentávamos a
mesma balada, tínhamos vários amigos em comum – alguns fiz através dela, a
mesma paixão pela comunicação e pela vida. Não conseguíamos conversar por
apenas alguns minutos, qualquer dedinho de prosa se tornava um papo de horas. Com ela era sempre assim: não existia pouco.
Um dia ela quis passar um tempo no exterior e escolheu o
Canadá. Não houve traumas, afinal, ela voltaria dali alguns meses. Preparamos
despedida, fizemos porta retrato com fotos nossas e prometemos nos reencontrar assim
que ela voltasse, mas o Universo tinha outros planos. Primeiro a permanência
dela fora do país se estendeu e, quando ela voltou, a vida dela tinha se
transformado completamente. Ela não era mais aquela menina que tinha ido ali
estudar um outro idioma, ela era uma mulher.
Acabou que nos vimos apenas uma vez desde o seu retorno, se
eu não me engano, no último aniversário que ela comemorou na praia. De lá para
cá ela cresceu muito como profissional, como mãe e, principalmente, como
pessoa. Mudou-se para o Rio de Janeiro, constituiu família e, ainda que – com
exceção de alguns comentários em redes sociais – nós nunca mais tenhamos nos
falado, tenho muito orgulho dela.
Hoje eu gostaria de agradecê-la por todas as lições que, com
sua amizade, aprendi e pelas lindas memórias que ela deixou. Depois dela,
aprendi a lidar melhor com as partidas e agora entendo que, nesses casos, não
há culpados, foi só a vida que decidiu seguir o seu curso.
Muito obrigado, baiana!
'Entenda que amigos vêm e vão, mas nunca abra mão de uns poucos e bons' (Dos tempos em que usávamos 'Filtro Solar' em nossas legendas de Orkut)
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
segunda-feira, 20 de junho de 2016
o Brasil que a gente não vê na TV
Semana passada, vários sites pipocaram – em tom de
comemoração – que, enfim, após 20 anos, ‘Malhação’, (novela, tipo seriado) da
Rede Globo, teria a sua primeira protagonista negra. No currículo da atriz escolhida,
Aline Dias, está a novela das sete, ‘Sangue Bom’ e a maravilhosa série, escrita
por Miguel Falabella, ‘Sexo e as Negas’, que – não sei porquê – teve apenas uma
temporada de exibição (bom tema para uma próxima publicação).
Aline Dias estreará como protagonista na próxima temporada de Malhação |
Para aqueles que estão surpresos com o tempo que o fato
demorou a acontecer, é importante lembrar que a primeira novela protagonizada
por uma atriz negra só foi ao ar em 2004. Exatos 52 anos após a estreia das
telenovelas no Brasil. ‘Da cor do pecado’, escrita por João Emanuel Carneiro,
trazia a incrível Taís Araújo no papel principal.
E Taís foi além. Em 2009 deu vida a uma das figuras mais
emblemáticas da teledramaturgia nacional: a Helena, do autor Manoel Carlos. Mas
o fato mais importante não está na personagem, mas na descrição dela: Helena,
modelo, 30 anos. Em nenhum momento há qualquer menção à etnia dela e isso, de
fato, é uma conquista.
Lázaro Ramos e Taís Araújo são, talvez, o casal negro mais bem sucedido do país |
Em outubro do ano passado, o jornal britânico ‘The Guardian’
trouxe uma matéria sobre o recém-lançado programa ‘Mister Brau’, estrelado por
Taís e seu marido, Lázaro Ramos. No texto, o jornalista chega a comparar os
atores brasileiros aos astros mundiais: Beyoncê e Jay-Z e, em um programa de
TV, a atriz é questionada sobre isso. E ela deixa claro que o foco da
publicação não era esse, mas o triste retrato de uma país em que o a população
não se via na televisão, já que, segundo IBGE , em 2014, 54% dela é composta
por negros e pardos.
Não estou desmerecendo o avanço que ocorrerá em ‘Malhação’,
muito pelo contrário, devemos comemorar o fato de que as crianças e adolescentes
negras dessa geração terão uma referência diferente das que eu tive (onde os
negros eram sempre escravos ou empregados), mas não podemos nos dar por
satisfeitos, há um grande caminho a ser percorrido e devemos, sem preguiça,
percorrê-lo.
‘A única coisa que separa uma mulher negra de qualquer outra,
é a oportunidade. Não se ganha prêmios por papéis que não existem. ’ (Viola
Davis, ao receber o Emmy Awards de melhor atriz de 2015)
segunda-feira, 13 de junho de 2016
podia ter sido eu
Na véspera do meu aniversário, juro que eu esperava ter
um outro motivo para reinaugurar esse espaço que, durante muito tempo,
considerei o melhor lugar para exercer o meu jornalismo. Mas, infelizmente, os
planos não saíram como eu esperava. Não estou aqui para celebrar a vida, muito
pelo contrário.
Ontem, em Orlando, nos Estados Unidos, 102 jovens foram
vítimas de um crime de ódio. 49 deles, morrerem. Não importa o que digam, que grupos terroristas
assumam a autoria. Aquele cara escolheu, especificamente, aquela boate,
simplesmente, porque acreditava que gays deviam morrer.
Omar Mateen tinha 29 anos, era americano, muçulmano de
origem afegã e trabalhava como segurança. Seu pai, Seddique
Mateen, não acredita que a motivação para o crime tenha sido religiosa, mas
lembrou que o filho expressou revolta ao ver um casal gay trocando carinhos, recentemente, no centro de Miami.
(Reuters) |
Que mundo é esse em que estamos vivendo? São ‘lampadadas’
na cara, apedrejamentos, violência física e verbal, gratuita e diária. E por
que? Pelo simples fato dessas pessoas amarem pessoas do mesmo sexo? Por que
diacho a vida sexual e afetiva do outro incomoda tanto? Faço-me essas
perguntas, praticamente, todos os dias e, até hoje, ainda não cheguei à
resposta.
Há pouco mais de um mês, passeando pelo meu feed de
notícias do Facebook, notei que um amigo muito querido havia compartilhado uma
imagem que dizia que as declarações da apresentadora Patrícia Abravanel eram
apenas a opinião dela (para quem não acompanhou, a filha do maior comunicador
desse país disse, em rede nacional: ‘Eu
não acho legal ficar considerando tudo normal. Devemos ensinar para os jovens
de hoje que homem é homem, mulher é mulher (...)Não sou contra o
homossexualismo (sic), mas sou contra falar que é normal’). O argumento? Não é homofobia porque ela não
estava batendo em ninguém. Quando as pessoas vão entender que as palavras
também machucam? Que quem decide o que é ou não agressão é a vítima e não o
agressor?
Eu sei o quanto é difícil lutar
contra um preconceito que está enraizado na nossa sociedade, mas não é por isso
que devemos desistir. Só no ano passado 260 pessoas morreram, oficialmente, pelo simples fato de ser quem são. Um crescimento de 31% se compararmos com
2009. Quantos mais terão que morrer para que as pessoas entendam que não é só
mimimi? Quantos terão que sofrer para que entendam que o ódio também mata? Quão
alto teremos que gritar para que, enfim, sejamos ouvidos?
Você não precisa ser gay para
lutar contra a homofobia. Também não precisa sair de sua casa? Aliás, pode
fazer isso dentro dela. Eduque seus filhos para respeitarem as diferenças, mostre
seu ponto de vista à seus pais quando identificar neles ideias que firam a individualidade
do outro, repreenda seus amigos que fazem piadas homofóbicas. Sei que pode não surtir um efeito imediato, mas, a longo prazo, podemos construir um mundo mais tolerante.
E, como disse em minhas redes sociais, foram 49 em Orlando,
mas poderia ter sido eu, aqui!
Chega!
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