segunda-feira, 13 de junho de 2016

podia ter sido eu

Na véspera do meu aniversário, juro que eu esperava ter um outro motivo para reinaugurar esse espaço que, durante muito tempo, considerei o melhor lugar para exercer o meu jornalismo. Mas, infelizmente, os planos não saíram como eu esperava. Não estou aqui para celebrar a vida, muito pelo contrário.

Ontem, em Orlando, nos Estados Unidos, 102 jovens foram vítimas de um crime de ódio. 49 deles, morrerem. Não importa o que digam, que grupos terroristas assumam a autoria. Aquele cara escolheu, especificamente, aquela boate, simplesmente, porque acreditava que gays deviam morrer.

Omar Mateen tinha 29 anos, era americano, muçulmano de origem afegã e trabalhava como segurança. Seu pai, Seddique Mateen, não acredita que a motivação para o crime tenha sido religiosa, mas lembrou que o filho expressou revolta ao ver um casal gay trocando carinhos, recentemente, no centro de Miami.

(Reuters)
Que mundo é esse em que estamos vivendo? São ‘lampadadas’ na cara, apedrejamentos, violência física e verbal, gratuita e diária. E por que? Pelo simples fato dessas pessoas amarem pessoas do mesmo sexo? Por que diacho a vida sexual e afetiva do outro incomoda tanto? Faço-me essas perguntas, praticamente, todos os dias e, até hoje, ainda não cheguei à resposta.

Há pouco mais de um mês, passeando pelo meu feed de notícias do Facebook, notei que um amigo muito querido havia compartilhado uma imagem que dizia que as declarações da apresentadora Patrícia Abravanel eram apenas a opinião dela (para quem não acompanhou, a filha do maior comunicador desse país disse, em rede nacional: ‘Eu não acho legal ficar considerando tudo normal. Devemos ensinar para os jovens de hoje que homem é homem, mulher é mulher (...)Não sou contra o homossexualismo (sic), mas sou contra falar que é normal). O argumento? Não é homofobia porque ela não estava batendo em ninguém. Quando as pessoas vão entender que as palavras também machucam? Que quem decide o que é ou não agressão é a vítima e não o agressor?

Eu sei o quanto é difícil lutar contra um preconceito que está enraizado na nossa sociedade, mas não é por isso que devemos desistir. Só no ano passado 260 pessoas morreram, oficialmente, pelo simples fato de ser quem são. Um crescimento de 31% se compararmos com 2009. Quantos mais terão que morrer para que as pessoas entendam que não é só mimimi? Quantos terão que sofrer para que entendam que o ódio também mata? Quão alto teremos que gritar para que, enfim, sejamos ouvidos?

Você não precisa ser gay para lutar contra a homofobia. Também não precisa sair de sua casa? Aliás, pode fazer isso dentro dela. Eduque seus filhos para respeitarem as diferenças, mostre seu ponto de vista à seus pais quando identificar neles ideias que firam a individualidade do outro, repreenda seus amigos que fazem piadas homofóbicas. Sei que pode não surtir um efeito imediato, mas, a longo prazo, podemos construir um mundo mais tolerante.

E, como disse em minhas redes sociais, foram 49 em Orlando, mas poderia ter sido eu, aqui!

Chega!

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