Na véspera do meu aniversário, juro que eu esperava ter
um outro motivo para reinaugurar esse espaço que, durante muito tempo,
considerei o melhor lugar para exercer o meu jornalismo. Mas, infelizmente, os
planos não saíram como eu esperava. Não estou aqui para celebrar a vida, muito
pelo contrário.
Ontem, em Orlando, nos Estados Unidos, 102 jovens foram
vítimas de um crime de ódio. 49 deles, morrerem. Não importa o que digam, que grupos terroristas
assumam a autoria. Aquele cara escolheu, especificamente, aquela boate,
simplesmente, porque acreditava que gays deviam morrer.
Omar Mateen tinha 29 anos, era americano, muçulmano de
origem afegã e trabalhava como segurança. Seu pai, Seddique
Mateen, não acredita que a motivação para o crime tenha sido religiosa, mas
lembrou que o filho expressou revolta ao ver um casal gay trocando carinhos, recentemente, no centro de Miami.
(Reuters) |
Que mundo é esse em que estamos vivendo? São ‘lampadadas’
na cara, apedrejamentos, violência física e verbal, gratuita e diária. E por
que? Pelo simples fato dessas pessoas amarem pessoas do mesmo sexo? Por que
diacho a vida sexual e afetiva do outro incomoda tanto? Faço-me essas
perguntas, praticamente, todos os dias e, até hoje, ainda não cheguei à
resposta.
Há pouco mais de um mês, passeando pelo meu feed de
notícias do Facebook, notei que um amigo muito querido havia compartilhado uma
imagem que dizia que as declarações da apresentadora Patrícia Abravanel eram
apenas a opinião dela (para quem não acompanhou, a filha do maior comunicador
desse país disse, em rede nacional: ‘Eu
não acho legal ficar considerando tudo normal. Devemos ensinar para os jovens
de hoje que homem é homem, mulher é mulher (...)Não sou contra o
homossexualismo (sic), mas sou contra falar que é normal’). O argumento? Não é homofobia porque ela não
estava batendo em ninguém. Quando as pessoas vão entender que as palavras
também machucam? Que quem decide o que é ou não agressão é a vítima e não o
agressor?
Eu sei o quanto é difícil lutar
contra um preconceito que está enraizado na nossa sociedade, mas não é por isso
que devemos desistir. Só no ano passado 260 pessoas morreram, oficialmente, pelo simples fato de ser quem são. Um crescimento de 31% se compararmos com
2009. Quantos mais terão que morrer para que as pessoas entendam que não é só
mimimi? Quantos terão que sofrer para que entendam que o ódio também mata? Quão
alto teremos que gritar para que, enfim, sejamos ouvidos?
Você não precisa ser gay para
lutar contra a homofobia. Também não precisa sair de sua casa? Aliás, pode
fazer isso dentro dela. Eduque seus filhos para respeitarem as diferenças, mostre
seu ponto de vista à seus pais quando identificar neles ideias que firam a individualidade
do outro, repreenda seus amigos que fazem piadas homofóbicas. Sei que pode não surtir um efeito imediato, mas, a longo prazo, podemos construir um mundo mais tolerante.
E, como disse em minhas redes sociais, foram 49 em Orlando,
mas poderia ter sido eu, aqui!
Chega!
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